To Love You

Para te amar
Não preciso de lógica
Nem de boa retórica
Para me convencer
.
Preciso apenas
De uma simples idéia
E de uma doce odisséia
Para contigo viver
.
Para ser feliz
Não preciso motivos
Nem ser sensitivo
Ou beleza para ver
.
Preciso apenas
De estar em teu mundo
E de tempo, um segundo
Para te percorrer
.
Para me entristecer
Não preciso tragédia
Nem de falsa comédia
É só viver sem você

Drink Coke With You

Tomar coca-cola com você é ainda mais divertido que ir a São Francisco, La Jolla, Tijuana, Tecate, Ensenada ou ter o estômago revirado de enjôo na Madison Avenue em Nova Iorque.
Em parte porque nesta camisa laranja você me parece um São Francisco melhor mais feliz;
Em parte por causa do meu amor por você, em parte por causa do seu amor por vodca;
Em parte por causa das margaridas laranjas fluorescentes cercando os ipês;
Em parte por causa do mistério que nossos sorrisos vestem diante de gente e estatuaria;
É difícil de acreditar quando estou com você que pode haver algo tão imóvel, tão solene, tão desagradavelmente definitivo quanto estatuaria quando bem em frente no ar quente das quatro da tarde em São Paulo nós vagamos em círculos um entre o outro sem parar como uma árvore respirando por suas oftálmicas.
E a exposição de retratos parece não ter qualquer rosto, só tinta. Você de repente pergunta-se por que diabos alguém deu-se ao trabalho de fazê-los.
Eu olho você e preferiria olhar você a todos os retratos do planeta com exceção talvez do  Auto-Retrato com corrente de ouro  de vez em quando que está no MASP a que graças aos céus você ainda não foi então podemos ir juntos pela primeira vez;
E o fato de que você se move tão lindo resolve mais ou menos o Futurismo; Assim como em casa eu nunca penso no Nu Descendo uma Escada ou num ensaio um único desenho de Da Vinci ou Michelangelo que antes me boquiabria;
E de que adianta aos Impressionistas toda a sua pesquisa quando eles nunca conseguiam a pessoa certa para encostar-se à árvore ao pôr-do-sol; ou a propósito Marino Marini se ele não escolheu o cavaleiro com o mesmo cuidado... que o cavalo;
É como se eles tivessem sido fraudados em alguma experiência maravilhosa, que eu não pretendo desperdiçar o motivo pelo qual estou aqui falando tudo isso para você.


FRANK O'HARA
TRANSCONTEXTUALIZAÇÃO DE RICARDO DOMENECK

The Pain That Hurts More

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. 

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
MARTHA MEDEIROS